quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ESTRANGEIRO

Imigrantes africanos em um barco próximo a Lampedusa, na Itália. Fotografia de Antonello Nusca, AP in El País, 8 de março de 2011.

E o fogo se alastrou, e o meteorito caiu, e o resto de ferro existiu, e a jazida foi aberta. Da garganta de Olduvai, não dos rins, não da cabeça, mas da garganta, aparelho fonador, a língua, linguagem, na planície do Serengueti, na Tanzânia, África, dos balbuciantes Australopithecus anamensis, dos Australopithecus afarensis, dos Australopithecus africanus aos Homo habilis, hábil, dos Homo ergaster ao Homo erectus, de pé em pé, passo a passo, ao Homo heidelbergensis, do Homo neanderthalensis ao Homo sapiens, o sábio, o falante, o que sabe fazer fogueira, o que sabe apagar a fogueira, o que sabe do cobre, sabe do ouro, sabe do bronze, sabe do ferro. Um sabido enfim. De gruta em gruta, do Estale, nas Bouches-du-Rhône, em Vértesszöllös, no Transdanúbio, Hungria, em Torralba e Ambrona, Espanha, em Zhoukoudian, China, na Mesoamérica daqui à Mesopotâmia de lá, em Gizé, em Abidos e em Deir el-Bahari, no Egito, nas planícies da Eurásia, da Alemanha à Sibéria, da Sibéria ao Alasca, pela ponte Beríngia ou Ponte Terrestre de Bering, do Indo ao não mais indo, permanecendo, se estabelecendo, eis que um dia de verão, quente, cálido, tépido, um ferreiro andante, procurador, à procura do objeto perdido, o metal, talvez preto, talvez pálido, nômade sim, vindo não se sabe donde, falando uma língua estranha, com mulher e filhos já, chegou ao que muito mais tarde saberia ser uma península. Itália.

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